No meio desse caminho tinha um poço |
As vezes as coisas nãos transcorrem como prevermos.
Não que isso justifique atrasos ou desleixos. Mas mesmo assim, semana passada eu fiquei emperrado em uma página-exercício para meu curso. Ela simplesmente tinha quadros demais, coisas demais acontecendo. E pelo que entendi TINHA que ser em uma página.
Protagonista (Jonah Hex) chega a uma cidade cheia de mortos e com sede se dirige ao poço, vê moça (a Morte dos Perpétuos); bebe do poço; estende a mão para ela; ela não dá a mão; ele vai embora. Surge um outro homem muito ferido; ela lhe dá a mão; ela parte, levando seu espectro pela mão.
E coisa pra caramba. E ainda por cima tinha um cavalo. Digo. Não tinha. Mas quem vai desenhar um personagem de faroeste chegando em uma cidade fantasma a pé? Cavalo. Eu detesto desenhar cavalos. Um dia desses preciso fazer uma terapia de choque ou algo assim. Todo mundo precisa saber desenhar cavalos.
Divagando menos, voltamos a página.
Na primeira versão, que como vocês podem ver está inacabada, eu tentei compactar algumas coisas e estender outras. Porque ele estende a mão para ela? Porque ele vai embora (foge) logo em seguida? Algum tipo de tensão tinha que existir.
Então decidi por retrata-la como uma viúva sentada na varanda de uma cidade fantasma. Esquisito o suficiente, imaginei. Ele estende a mão e ela não reage. Ele tem a sensação de que alguma coisa está mal. O cara é Jonha Hex, já encontrou com bastante sobrenatural por suas andanças. Depois como tinha pouco espaço, toma correr com a cena do moribundo que a Morte leva.
Tudo lindo, até que surgiram os problemas.
A transição da sua partida e da chegada do segundo homem ficou corrida. Eu precisava economizar quadros. Tinha coisa demais. Ainda mais com essa resolução de estender a "estendida de mão dele". Eu queria quadros grandes para a cena final, mas simplesmente não coube. Eu precisava de um quadro entre a partida de um e chegada de outra para fazer a passagem de tempo. Claro que descobrir isso no meio da arte final não ajudou muito.
Apesar de tudo gostei bastante de passagem dele estendendo a mão para ela e ficando preocupado antes de ir embora. Pena que não pude utilizar na versão final.
Muita dor e pouco tempo depois recomecei a página. Voltei para os estudos. A pressa me matou. Na urgência de começar as páginas da hq que tinha prometido no post anterior eu atropelei o meu "dever de casa". Toda página se define nos tumbnails. É melhor perder mais tempo lá e perder na arte do que derrubar a narrativa. Ao menos eu vejo assim. Em quadrinhos, no fim, somos escravos da narrativa.
Definido o novo lay-out cheguei a algumas conclusões interessantes. Se os quadros tinham que ser pequenos, eles tinham que ser simples. E nessas horas a repetição ia ajudar muito, pois o leitor não ia se demorar na leitura de cada um e a "miudeza" deles não ia incomodar tanto por não haverem muitos novos elementos a serem apreendidos.
Depois, como disse, a narrativa manda. Ao construir a primeira cidade e a primeira morte, pensei em retratar belamente uma cidade clássica de faroeste, mas nessas horas os detalhes estavam mais me atrapalhando do que ajudando. Como não sou um perito no período, a pesquisa visual me consumiu muito tempo e ainda assim deixou a desejar, pois tão preocupado na representação esqueci do clima. Cidade fantasma.
Assim optei por uma locação mais detonada e rustica, mais povoado e menso cidade. Por economia coloquei a morte no poço. E ela deixou de ser uma viúva para ser uma menina. Ainda mais esquisito que a primeira ideia Nosso caro homem da cara queimada teria mais razões para ficar ressabiado com a cena. Simplifiquei algumas tomadas usei enquadramentos de perfil sem cenário ou escorços. Não importa se ficou menos maneiro se o maneiro atrapalha a leitura, e nesses mini-quadros que eu ia usar, tinha que ser econômico em quase tudo. Aumentei ainda mais o quadro inicial, tanto em tamanho quanto no destaque das figuras. Ele dá o tom. Apresenta as personagens. Se vou economizar no resto é bom dar algumas coisa para o leitor na entrada.
E ai está a nossa página. Não, não ficou perfeita, mas deu para tirar muita coisa dela. E valeu a pena a refação. Como narrativa está bem melhor que a primeira versão. Assim, enquanto a morte leva o nosso pobre coitado, voltarei aos meus personagens e seu existencialismo de botequim. Grato por quem leu isso até o fim e até mais.
Existencialismo de botequim... Genial... Nada mais a declarar!
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